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Para fins de proporcionar releituras e discussões da lenda Cabeça de Cuia, que trata da história de Crispim, jovem pescador que morava nas margens do rio Parnaíba, onde ali sofriam com a fome nas épocas de poucos peixes, o promotor de Justiça Francisco de Jesus Lima, que atua na 5ª Promotoria de Justiça da capital, responsável pela aplicação da Lei nº 11.340/2006 – Maria da Penha, recomendou aos poderes públicos estadual e municipal reflexões acerca da lenda, pois, segundo o promotor, ali se encontram naturalizados diversos crimes praticados contra mulher: violência física, estupro, feminicídios, dentre outros.

 

“O poder público deve adotar medidas administrativas que assegurem os direitos das mulheres, garantindo-lhes viver sem violência, preservando-lhes sua saúde físico-mental, intelectual e moral”, diz.

 

Na versão proposta, são retiradas as violências de gênero: Crispim não virou cabeça de cuia, tornou-se policial do corpo de bombeiros, tinha uma irmã delegada de polícia e sua mãe, Eleonora, morreu de morte natural aos 90 anos de idade.

 

Crispim saiu cedo para pescar, porém naquele dia nada conseguiu do rio. Sua mãe se compadecendo com a situação, foi pedir à vizinha algo para que pudesse fazer o almoço de seu filho. Porém a única coisa que lhe foi oferecido foi um osso de boi, assim, a mãe de Crispim fez uma sopa rala, sem carne, com o osso apenas para dar gosto à agua, que vinha misturada com farinha em forma de pirão.

 

Nesse dia, ao voltar cansado e frustrado da pescaria, Crispim pediu à mãe o que comer e ao se deparar com a sopa de ossos, revoltou-se com o contexto social em que viviam as famílias ribeirinhas. Diante o descaso do poder público, no outro dia, Crispim reuniu as famílias ribeirinhas formando uma associação de moradores, com pauta de reivindicações aos poderes públicos, dentre elas políticas públicas de saúde, trabalho, segurança e educação.

 

Vilma, irmã de Crispim, estudante do Liceu Piauiense, tornou-se delegada de polícia e já naquela época, reivindicava políticas de igualdade de gênero e reprimia com seu trabalho todas as formas de violações aos direitos das mulheres, salvando “Marias” das diversas formas de violências.

 

Crispim se tornou policial militar do corpo de bombeiros e ainda hoje alguns moradores da região afirmam que Crispim aparece às margens dos rios Parnaíba e Poty, usando seu capacete vermelho, protegendo banhistas e pescadores, indicando-lhes os locais de pescas, protegendo-os dos buracos feitas pelas dragas de extração de areias. Eleonora, mãe de Crispim, faleceu aos 90 anos de idade de morte natural e, orgulhosa, pediu para ser sepultada com as fotos onde aparecia nas formaturas de Vilma e Crispim.