O Ministério Público do Estado do Piauí (MPPI), por meio da 29ª Promotoria de Justiça de Teresina, realizou audiência extrajudicial híbrida na manhã desta quarta-feira (21) para cobrar mais informações sobre eficácia e monitoramento da introdução do “aedes do bem” como alternativa ao combate de doenças causadas pelo mosquito aedes aegypti. A audiência dá continuidade aos debates que vêm sendo promovidos pelo MPPI acerca dessa biotecnologia.

O promotor de Justiça Eny Pontes explicou que o acompanhamento do Ministério Público se deu em razão de denúncia do Centro de Apoio Operacional de Defesa da Saúde (CAODS/MPPI) sobre a venda de mosquitos geneticamente modificados que, conforme o laboratório Oxitec, que desenvolveu a tecnologia, e a Desinflex, empresa responsável pela comercialização dos ovos no Piauí, seriam uma opção ao combate de doenças causadas pelo vetor.

Promotor de Justiça Eny Pontes.

Para colaborar com o diálogo, participaram da reunião representantes da empresa Desinflex, do laboratório Oxitec, além de representantes da saúde municipal e estadual.

“Essa é uma oportunidade para o laboratório prestar esclarecimentos, diante da preocupação sobre estudos científicos e, especialmente, do monitoramento após a inserção do mosquito geneticamente modificado no Piauí”, pontuou o promotor.

Natália Ferreira, diretora Executiva da Oxitec, explicou o processo de aprovação da ferramenta pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) e sobre os testes já realizados de eficácia e monitoramento, que integrariam um dossiê de cerca de 300 páginas enviado à comissão. A representante foi questionada por Eny Pontes se houve inclinação do Ministério da Saúde para adotar a tecnologia como política pública de combate às doenças transmitidas pelo aedes aegypti. “Ainda não. Mas temos esperança de que isso aconteça futuramente”, respondeu.

Representantes do laboratório Oxitec participam virtualmente da audiência extrajudicial sobre o “aedes do bem”.

A médica veterinária do Centro de Zoonoses da Fundação Municipal de Saúde (FMS) de Teresina, Oriana Bezerra, pontuou esse fato como sendo de preocupação sobre a eficácia dessa biotecnologia e sobre uma possível substituição do aedes aegypti pelo aedes albopictus, espécime considerado potencial transmissor das viroses das quais o aedes aegpyti é vetor. “O Ministério da Saúde não usa nem aprovou a ferramenta. Em audiência passada, eu trouxe uma série de artigos falando sobre o número de aedes albopictus crescendo onde há redução do aedes aegypti. Se criamos vetores do bem, será difícil o controle na eliminação, além da possibilidade de sobreposição de espécies”, destacou.

Oriana Bezerra, médica veterinária do Centro de Zoonoses da FMS.

Isso porque, ao utilizar métodos de extermínio de mosquitos, como o uso de inseticidas, tanto o mosquito comum como o geneticamente modificado são eliminados, o que levanta desconfiança sobre a eficácia do método. “A forma mais eficaz de combater o vetor é acabar com os criadouros”, ressaltou Oriana Bezerra.

Amélia Costa, coordenadora de Epidemiologia da Sesapi.

A coordenadora de Epidemiologia de Secretaria de Estado da Saúde do Piauí (SESAPI), Amélia Costa, também frisou preocupação com a necessidade de um monitoramento eficiente desses mosquitos geneticamente modificados. “Será que a resposta desse monitoramento é eficiente?”, questionou.

Eny Pontes também ressaltou que a adoção do “aedes do bem” pelo município implica em gastos de recursos públicos e, por isso, a discussão no âmbito da saúde não pode ser descartado.

Promotor de Justiça Eny Pontes.

“Nós compreendemos a resistência sobre a biotecnologia. Mas garantimos que não existe relação entre a escolha do Ministério da Saúde e a eficácia do produto”, disse Benny Spiewak, sócio-advogado da Oxitec.

Ao final da audiência, ficou encaminhado que a Oxitec enviará, no prazo de 10 dias, o dossiê mencionado no início da reunião e demais documentos que possam sanar as dúvidas sobre a eficácia do método e o monitoramento dos mosquitos após a sua comercialização.

Também participaram da audiência extrajudicial a gerente de Epidemiologia da FMS, Maria do Amparo Salmito; o diretor da Desinflex, Bruno Nogueira; o advogado da Desinflex, Felipe Alencar; Francisco de Assis Morais, colaborador do Ministério da Saúde em aboviroses no Piauí; Ocimar Barbosa, técnico do setor de arboviroses da Sesapi; e Paula Alice Cruz, advogada representante da Oxitec.