O Ministério Público do Estado do Piauí (MPPI), por meio da 29ª Promotoria de Justiça, realizou audiência na manhã desta sexta-feira (2) sobre a suposta eficácia da introdução do “aedes do bem” como alternativa ao combate de doenças causadas pelo mosquito aedes aegypti, como dengue, chikungunya e zika. Além disso, representantes da saúde municipal foram convidadas para expor suas preocupações e questionamentos a respeito da tecnologia.
Na ocasião, o promotor de Justiça Eny Pontes se reuniu com a gerente da Vigilância Sanitária do município, Maria do Amparo Salmito; a médica veterinária da Fundação Municipal de Saúde (FMS) Oriana Bezerra; os advogados da empresa Desinflex Controle Urbano, Karen Luchese S. S. Cavalcante e Fellipe Roney de Carvalho Alencar; e o diretor da Desinflex, Bruno Nogueira de Almeida.
Ao iniciar a reunião, o promotor relatou preocupação com a eficácia da inserção do mosquito macho modificado e questionou como funcionaria a biotecnologia.
Bruno Nogueira, gestor da empresa responsável pelo comércio das larvas no Piauí, fornecidas pelo laboratório Oxitec, relatou que a revenda é feita com autorização do ICMBio, órgão que regulamenta essa biotecnologia, e detalhou como acontece a reprodução do mosquito.

“Nós recebemos as cápsulas com ovos modificados e ração para alimentar as larvas quando nascem. Também vem conservantes para colocar na água. A partir do momento em que são colocadas dentro da caixinha e é adicionado água, as larvas eclodem e se desenvolvem apenas mosquitos machos com esse gene. Eles irão cruzar com as fêmeas e, a partir dali, vão nascendo descendentes machos com o mesmo gene, espalhando esse código genético modificado”, explicou.
Maria do Amparo Salmito, por sua vez, expôs a dificuldade de se comunicar com o laboratório para receber mais informações e os possíveis problemas que a inserção do mosquito modificado pode provocar, tanto no meio ambiente como na saúde.
“Quando você acaba com uma espécie, outra toma o seu lugar. Nossa preocupação é criar um ‘super mosquito’, mais agressivo na transmissão que o aedes aegypti”, destacou.

Oriana Bezerra reforçou o questionamento da eficácia, caso não seja associada a outros monitoramentos e à prevenção contra criadouros do mosquito selvagem.
“Municípios informaram estar usando a metodologia e, no entanto, os dados de casos não condizem com uma possível eficácia do método. Por si só, não resolve. O que se pontuou nesse monitoramento foi que, associado a outras medidas, pode ajudar. Mas não se pode, indiretamente, incentivar os cidadãos a permanecerem com criadouros em suas residências”, enfatizou.
Outro ponto colocado por Oriana foi que existe o controle de pragas com inseticida que, se aplicado, vai matar tanto mosquitos selvagens quanto os geneticamente modificados.
Sobre isso, Bruno Nogueira pontuou que seria necessária uma ação conjunta da prefeitura para monitorar e, nos locais em que o “aedes do bem” for inserido, não haver esse tipo de controle de pragas, além de associar a biotecnologia às campanhas de prevenção já existentes.
Diante do exposto e da ausência de mais informações técnicas, Eny Pontes estabeleceu que será realizada uma nova reunião, convocando também o laboratório responsável pela manipulação e fornecimento das larvas modificadas, em 21 de junho, para mais esclarecimentos.