Em alusão ao “Agosto Lilás”, mês de enfrentamento à violência doméstica e familiar contra a mulher, o Ministério Público do Piauí (MPPI), por meio do Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional (CEAF), promoveu programação especial para debater o tema nesta sexta-feira (23). O objetivo foi estimular a compreensão multidisciplinar sobre o enfrentamento desse tipo de violência, buscando uma atuação efetiva e sem revitimização.

A diretora do Ceaf/MPPI, procuradora de Justiça Teresinha Borges, realizou a abertura do evento. Ela relembrou a implantação da Ouvidoria das Mulheres do MPPI em outubro de 2021, setor especializado da Ouvidoria Geral para receber demandas relativas a lesões de direitos humanos de meninas e mulheres, além do encaminhamento das vítimas a órgãos competentes.

Ex-ouvidora do MPPI, Teresinha Borges exteriorizou sobre os assuntos de denúncias mais recebidos na Ouvidoria das Mulheres. “Constatamos que as demandas prevaleciam em violência doméstica. Mulheres achando normal a situação de violência vivida e que não havia como sobreviver sem auxílio do companheiro. Isso se torna um ciclo. Diante disso, desenvolvemos trabalhos com os servidores da Ouvidoria para encontrar a melhor forma de abordagem nesses casos, com cursos, parcerias, oferecendo aperfeiçoamento, bem como trabalhar para que a mulher vítima se sinta com a autoestima mais elevada e compreenda a situação grave de violência”, disse Teresinha Borges.

Diretora do Ceaf/MPPI, procuradora de Justiça Teresinha Borges, realizou a abertura do “Agosto Lilás”.

Ela também enfatizou a necessidade de atendimento psicossocial de forma sistêmica, com diversos órgãos envolvidos na melhor maneira de resolver a questão da violência doméstica.

Em seguida, a promotora de Justiça do Ministério Público do Estado do Paraná (MPPR) Ticiane Pereira, ministrou a palestra “Retórica em Feminicídio após a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 779”. Em sua apresentação, ela abordou aspectos do Direito acerca da violência contra a mulher e a necessidade de atualização da linguagem jurídica.

Promotora de Justiça do MPPR Ticiane Pereira fala sobre Retórica em Feminicídio após a ADPF 779.

“Temos uma formação muito heteronormativa no Direito, feito por homens, para homens, e que não considera aspectos de singularidade da existência feminina. Por isso, viemos debater e desvelar essa situação histórica do Direito e sugerir novos padrões linguísticos da comunicação”, explicou. Sobre o aspecto da linguagem, a promotora de Justiça ainda exemplificou com o termo “legítima defesa da honra masculina” para justificar um feminicídio, e a declaração pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), por meio da ADPF 779, de inconstitucionalidade do uso da tese de legítima defesa da honra em crimes de feminicídio.

Promotora Ticiane Pereira chama atenção para a necessidade de rever padrões linguísticos na comunicação jurídica.

“Matar sob a ideia do justiçamento de que a mulher pediu a própria morte hoje não pode mais fazer parte de retóricas e temos que vigiar nossa linguagem”, ressaltou.

A programação seguiu com a palestra da psicóloga do Núcleo das Promotorias de Justiça de Defesa da Mulher Vítima de Violência Doméstica e Familiar (NUPEVID), Cynara Cardoso, que falou sobre os “Reflexos Psicológicos da Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher nos Familiares”.

Psicóloga do NUPEVID Cynara Cardoso fala sobre reflexos psicológicos da violência doméstica e familiar.

Cynara Cardoso salientou que a violência doméstica impacta não apenas a mulher vitimada, como também o núcleo familiar, uma vez que o agressor muitas vezes não compreende o ato da violência como algo grave e os traumas também atingem quem testemunha os atos de violência.

Ela também explanou sobre as abordagens em relação aos diversos sujeitos envolvidos no conflito e as necessidades das vítimas, além da importância do suporte a testemunhas da violência.

Para Cynara Cardoso, é necessário atentar para as fragilidades que permanecem no âmbito familiar, a possibilidade de novas agressões e ameaças. Diante dos traumas vivenciados por quem sofre ou presencia um ato de violência, ela defende a importância de uma escuta especializada e atendimento humanizado, de forma a colaborar com a transformação social.