Os Promotores de Justiça Carlos Rubem Campos Reis e Everângela Araújo Barros receberam homenagens durante a inauguração das novas instalações dos fóruns das comarcas de Simplício Mendes e Campinas do Piauí. O evento aconteceu no último sábado (19). O Desembargador Edvaldo Moura, presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Piauí, também esteve presente.
Carlos Rubem Campos Reis, que já foi titular das Promotorias de Justiça das duas cidades, recebeu o título de cidadão simpliciomendense. A Promotora de Justiça, por sua vez, foi agraciada com homenagem pelos relevantes serviços que tem prestado ao município como atual titular.
Em Campinas do Piauí, o presidente do TJ e o Promotor de Justiça Carlos Rubem Campos Reis visitaram a antiga Fábrica de Laticínios dos Campos, inaugurada em 1897, monumento histórico do Município.
Veja todas as fotos no flickr do Ministério Público e confira, abaixo, o discurso proferido pelo novo cidadão simpliciomendense durante a solenidade.
Por feitio e formação, normalmente não me sinto bem, nem confortável – com toda a franqueza – quando recebo medalhas, comendas e insígnias, que, aliás, são ofertadas, às mancheias, em nosso Estado. Por isso, me surpreendi quando soube de minha indicação para o recebimento do título de cidadão simpliciomendense, pois fiquei eufórico e feliz com a notícia. Daí, achei por bem explicar – até para mim mesmo – porque considero que não se trata de mais um “galardão” qualquer, mas, sim, de algo a ser recebido com todo o respeito e emoção, isto é, porque acho que fez-se justiça ao lembrarem meu nome, modéstia às favas! De há muito, sem precisar de documento oficioso ou oficial, pelos amigos que fiz e pela própria cidade, considero-me gente desta terra.
Falo isso com toda a tranquilidade porque, desde os idos de 1989, quando iniciei a minha já longa carreira ministerial, a “oeirensemente nascida cidade de Simplício Mendes” contou com os serviços deste Promotor de Justiça que vos fala. Muito mais que isto, no entanto, nos 18 anos (até 2006), quase ininterruptos, em que estive à testa do Ministério Público nesta cidade, exerci, tanto funcional como pessoalmente, uma profícua e proveitosa convivência social no seio desta urbe.
Muitos de meus amigos aqui residentes sabem que, além das funções atinentes ao cargo público, exerci, até com prazer – na falta de profissionais nelas investidos – a assistência judiciária gratuita a pessoas necessitadas, onde atuei em inumeráveis processos. Aliás, fico muito feliz por já termos, atualmente, um Defensor Público nesta Comarca, o dedicado Dr. Adriano Moreti Batista. Mas é importante afirmar, também, que não descurei do cargo que ocupo, inclusive levando a júri inúmeros réus, cujos processos se alongavam e acabariam, pelo andar da carruagem, prescritos e os criminosos, em decorrência, na impunidade. Também vivenciei, no cargo, os anos de tormenta jurisdicional que se consubstanciaram no afastamento, convenhamos, por injustificável período, do Juiz de Direito desta Comarca, Dr. Francisco Daltron das Chagas de Vasconcelos, e culminaram com a discutível decisão, por parte do Tribunal de Justiça do Estado do Piauí, de puní-lo com a aposentadoria precoce.
Ainda hoje – quando já se vão alguns anos que me encontro afastado da Promotoria de Justiça desta Comarca – apesar das autoridades estaduais insistirem em transformar a PI – 143, de cerca de 102 km, que liga Oeiras a Simplício Mendes, em paisagem lunar, com centenas de buracos e panelas de todos os tipos e tamanhos – ainda assim, continuo ligado, física e afetivamente, a esta cidade, frequentando e reencontrando velhos amigos nas festas cívicas e outros eventos de natureza cultural que por aqui ocorrem, como fiz durante todos aqueles anos.
Numa destas efemérides, o lançamento do livro “Isaias Coelho – O Esculápio do Sertão”, do escritor e amigo José Mendes de Sousa Moura, tive a honra de fazer a apresentação da supracitada obra. A propósito, a lembrança do Dr. Isaias Coelho centraliza, em mim, sentimentos de orgulho e frustração.
Orgulho por ter capitaneado uma campanha que resultou em concorrido evento, ocasião em que houve manifestação de regozijo pelo centenário de nascimento daquele renomado médico e humanista, em praça pública. Na oportunidade, sob os acordes da Banda de Músicos “Santa Cecília”, de Oeiras, tive a honra de discursar, e até mesmo, declamar um belo soneto do meu padrinho, o também médico e escritor, Dr. José Expedito Rêgo. É insopitável: “Esse que vês, em bronze esculturado, / na praça principal desta cidade, / de ledas, vivas flores rodeado / qual sombra triste em meio à claridade // Trazendo no semblante fatigado / fundas rugas de dor e de ansiedade / e, no comprido lábio desolado, / um travo de desgosto e soledade; // Não foi poeta, nem se fez famoso / na Política, nem também se diga / que nasceu nobre, que foi poderoso! // Está todo seu mérito no amor / com que se deu a sua gente amiga, / na luta ingente de sanar a dor!…”
Em seguida, na Câmara Municipal deu-se o lançamento do libreto “Isaías Coelho – Centenário de um mestre”, por mim editado, enfeixando alguns de seus primorosos escritos, patrocinado pelos municípios de Simplício Mendes e Isaías Coelho e o Instituto Histórico de Oeiras, do qual eu fazia parte. Convém realçar que o povoado Tamboril (hoje localizado no município de Isaías Coelho), onde e quando nasceu o Dr. Isaías Rodrigues Coelho, fazia parte do espaço geográfico do município de Oeiras, a geratriz do Piauí. E isso logo no início da minha carreira, em 1991, quando ainda cumpria estágio probatório!
A frustração se deve ao fato de que, até hoje, e apesar de tantas promessas das autoridades municipais e estaduais, ainda não conseguimos – eu e demais outros admiradores de sua vida e obra – transformar em Casa de Memória o edifício que abrigou a residência e o consultório do Dr. Isaias, que saudável evocação provoca naqueles que privaram de sua amizade e/ou mereceram seus cuidados médicos, bem como desfrutaram de sua palavra abalizada. São exemplos edificantes como os do Dr. Isaías Coelho que precisam ser transmitidos às novas gerações tão carentes de referenciais altruísticos.
Agora, já na qualidade de cidadão, título que esta Casa Legislativa acaba de me outorgar, continuo disposto a participar dos esforços visando à preservação daquele sertanejo marco como ícone da presença, em nosso meio, deste verdadeiro discípulo de Hipócrates. Neste particular, arrependido por não ter exercido o meu múnus público – pois procurei pavimentar a estrada da sensibilização coletiva – concito a minha simpática e competente colega, Dra. Everângela Araújo Barros Parente, atual representante do Parquet estadual nestas plagas, que promova a abertura de um Procedimento Investigativo Preliminar que redunde numa Ação Civil Pública, objetivando obrigar, tanto o município de Simplício Mendes quanto o Estado do Piauí, a efetivarem medidas no sentido de, através da restauração deste monumento, fomentar, ainda mais, a divulgação e perpetuação da memória daquele benemérito. Isto dará, a todos nós, estofo para nos distinguir e, enquanto tal, apresentá-lo aos que nos, porventura, visitem.
Quando a gente fala de si mesmo, sempre há o risco do elogio em boca própria que, como afirmam, acaba parecendo um vitupério. Estou ciente, porém, de todas as minhas falhas e limitações e só não as destaquei aqui porque não cabe, pois se trata de agradecer um título de cidadão e não de enfrentar o juízo final.
Agradeço a edilidade local, de coração, pela indicação do meu nome para figurar no rol dos cidadãos deste tradicional e progressista “Barreiro Branco”!
Tenho dito!
(Discurso de agradecimento pronunciado por Carlos Rubem Campos Reis, Promotor de Justiça, ao ensejo do recebimento do Título de Cidadão de Simplício Mendes, ocorrido no dia 19 de março de 2011, quando da reinauguração do Fórum José Carneiro Neto, daquela Comarca)